quarta-feira, 9 de agosto de 2017

Crime doloso




Fui eu que joguei a bomba caseira. 
Na madrugada de uma sexta-feira. 
Minha única testemunha foi a Lua.
Eu destruí a casa em que um dia fui tua.
Soube que tua amante comprou aquele sobrado antigo.
Mudou as cores, matou as plantas, trocou as chaves.
Então eu decidi, meu amigo,
Que ela não seria feliz onde um dia eu fui.
Pesquisei na internet como fazer uma bomba caseira. E fiz.
Comprei cada material como quem compra ingredientes de um bolo. 

Me surpreendeu a facilidade com que minhas mãos eram ágeis para manipular produtos químicos e concluí que o ódio me fez mais forte e inteligente. 
Como se eu fosse a McGiver das mulheres frustradas.
Com a bomba pronta eu precisava de um álibi.
Dei entrada no Pronto Socorro vomitando. 

Enchi a recepção de restos de sopa e suco Detox verde. 
Foi uma obra de arte. 
Fui atendida com bastante atenção. A bomba na bolsa. Numa nécessaire. 
Parece que quando você vai cometer um crime todas as pessoas te respeitam inconscientemente.
Ao sair do hospital, passei de táxi na frente da casa. 

A rua deserta. Dispensei e fui um quarteirão a pé. 
Parei em frente ao portão. 
Senti aquele arrepio que eu sentia quando ia te encontrar​. 
Aquelas paredes, aquelas escadas, aquelas portas, aqueles corredores escuros, a infiltração que você nunca mandou consertar. 
Tudo estava lá. Menos nós.
O ódio explodiu. Acendi o isqueiro. Queimei o estopim. 

E arremessei aquela bomba como se eu fosse um jogador americano de baseball.
Saí correndo.
A Lua me perseguia.
Me espionava.
Escutei a explosão. 




Parei outro táxi que vinha passando e antes das 7:00 eu já estava chegando na loja com o atestado em mãos. 
Todos com pena de mim.
"Vá pra casa, Amália. Você nem deveria ter vindo do hospital pra cá. Que moça responsável. Vá pra casa."
Assim foi.
Os jornais não deram muita atenção.
Os vizinhos logo esqueceram.
Mas eu sei que ela entendeu. E sei que você entendeu.
Isso me basta.

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