quarta-feira, 1 de junho de 2016

A DEFENESTRADA


Eu fiquei na torre mais alta
Por mil dias e mil noites
Testemunhando o nascer
E o pôr-do-sol
Mas tu não vieste.

Minhas longas e negras tranças
Penderam ao chão
Esperançosas!
E tu não vinhas...
E tu não chegavas...

Cortei eu mesma as tranças
Com a velha tesoura da gaveta
Pra fazer justiça poética
Queimei as fotos, as cartas, as tranças
Queimei tudo no chão do quarto.

Pra fazer maldade poética
Saltei janela afora
O precipício
Chovi.
Caí como gota cinza e gelada
Noite escura.
Um pesadelo
Dancei sozinha, no éter.
Eu tinha
Lábios azuis e olhos vermelhos
Todos  planetas girando ao meu redor
Transitando.

Pisei em flores caídas ao chão
Pousei.
Coloquei meu coração petrificado
Num vidro com formol
E o coloquei sobre o teu piano
Na tua sala de música
Ao lado das partituras.

Subi as escadas
Enquanto dormias, eu te olhava.
Vaguei algumas horas, ou teriam sido semanas?
Ninguém saberá dizer...
Assombrei e fui assombrada
Depois cansei de vagar
Devagar meus olhos fecharam
Agora sou apenas mais uma pedra
Rolando rio abaixo, sigo assim.
E você não sabe nada,
Você não sabe nada sobre mim.



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