sexta-feira, 17 de junho de 2016

A HÓSPEDE

A poesia em mim chove e alaga
A poesia entra pela janela e escorre pelas paredes
A poesia inunda minha casa
A poesia escapa entre os meus dedos

Aqui a poesia entra, senta e toma um café
A poesia corre pela sala e fala alto
Aqui a poesia me desafia dia e noite
Implica comigo, me insulta e esnoba.

Depois a poesia flui gentilmente
Chega perto mansinha, mas atrevida,
Pulsando, vibrando, explodindo
E deita-se, sedutora, numa folha de caderno. Nasce!

Então ela sai correndo, afoita, atrapalhada
Derrubando meus livros por toda a casa
A poesia é uma febre louca que dá e passa, sem explicação;

E me deixa aqui, esperando, sua próxima aparição.




quinta-feira, 16 de junho de 2016

SOBRE AS FRALDAS



Percebi que era um fato quando passamos na frente da farmácia e não deu aquele alerta: “Atenção, tem promoção de fralda!”

Naquele momento eu me dei conta de que o Domenico não era mais um bebê. O costume de correr para aproveitar a promoção de fraldas era aliado a sempre comprar um carrinho hot wheels de presente pra ele (o que tornava sempre aquele momento divertido e feliz), isso fazia parte do passado há um mês! 

E foi tão rápido que ele absorveu a idéia de largar as fraldas que até me espantei. 
Basicamente o que fizemos foi: numa noite assistimos a todos os vídeos infantis do youtube com ele sobre o tema Hora de tirar as fraldas e usar o vaso. Musiquinhas em vários idiomas, mas com o mesmo tema onde ele captou a essência da coisa. Nos 3 dias seguintes, seguimos a dica de uma psicóloga que foi na Fátima* e ensinou que para a criança esquecer as fraldas tinha que parar de usar. Exatamente isso. Deixar a criança peladinha mesmo! E não é que funcionou? E muito bem. Rapidamente ele entendeu que tinha que ir ao banheiro, avisar aos pais e irmãos que precisava ir. E desse modo, simples, sem briga, sem bater, sem pressionar, sem gritos nem traumas em 1 SEMANA ele se libertou das fraldas descartáveis. Bom pro nosso bolso, orgulho pelo crescimento do nosso baby, mas confesso que senti os olhos marejando quando passei na frente da farmácia, que era nossa parada obrigatória, e passar direto. 
E mais uma vez eu, mãe, transpondo esses rituais de passagem. Coisas que eu já vivi com Lorenzo e Letizia, mas que ainda assim me emocionam. São ciclos que se fecham. É o tempo passando e a vida gritando: “Aproveite cada momento!”
Eu seguro o choro. 
Respiro fundo e penso:

- Estou aproveitando, Dona Vida. Estou aproveitando. - enquanto vejo, pela janela do carro, a farmácia ficar para trás...

*Programa Encontro com Fátima Bernardes

quarta-feira, 1 de junho de 2016

A DEFENESTRADA


Eu fiquei na torre mais alta
Por mil dias e mil noites
Testemunhando o nascer
E o pôr-do-sol
Mas tu não vieste.

Minhas longas e negras tranças
Penderam ao chão
Esperançosas!
E tu não vinhas...
E tu não chegavas...

Cortei eu mesma as tranças
Com a velha tesoura da gaveta
Pra fazer justiça poética
Queimei as fotos, as cartas, as tranças
Queimei tudo no chão do quarto.

Pra fazer maldade poética
Saltei janela afora
O precipício
Chovi.
Caí como gota cinza e gelada
Noite escura.
Um pesadelo
Dancei sozinha, no éter.
Eu tinha
Lábios azuis e olhos vermelhos
Todos  planetas girando ao meu redor
Transitando.

Pisei em flores caídas ao chão
Pousei.
Coloquei meu coração petrificado
Num vidro com formol
E o coloquei sobre o teu piano
Na tua sala de música
Ao lado das partituras.

Subi as escadas
Enquanto dormias, eu te olhava.
Vaguei algumas horas, ou teriam sido semanas?
Ninguém saberá dizer...
Assombrei e fui assombrada
Depois cansei de vagar
Devagar meus olhos fecharam
Agora sou apenas mais uma pedra
Rolando rio abaixo, sigo assim.
E você não sabe nada,
Você não sabe nada sobre mim.



Silenciosa

Minha carne está na íntegra queimando
E por meus pensamentos muitos me hão de condenar
Mas nada há em minha conduta evidenciando
O fogo que arde em mim ao te ver passar.

Pouco me importam tais julgamentos
Porquanto a inocência não seja prerrogativa
Quero roubar-te ao castelo comigo
E te queimar na chama que a meu ser cativa.