terça-feira, 31 de maio de 2016

Onipotência


O que sai de mim não é exato.
O que sai de mim não tem formato.
O que sai de mim não tem medida.
O que sai de mim não tem saída.
O que eu penso não cabe em uma folha.
O que eu bebo não se fecha com rolha.
O que eu sinto não pode ser contido.
O que eu gesto não pode ser parido.
O que eu desejo é fruto proibido.
O que eu faço não deve nem ser visto.
O que eu temo é o fundo do poço.
O que eu chupo é a fruta e o caroço.
Eu sou a dúvida que te revira o sono.
E sou a dor que pulsa grave no teu peito.
Eu sou a ninfa doce que surge no teu sonho.
E a fêmea violenta que incendeia o teu leito.
Sou a saudade de tudo o que não viveste.
Sou a lembrança de onde não pudeste ir.
Eu sou o prêmio que tu não mereceste.
Sou a tua morte e te ceifarei no fim.



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