quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Assombrações


As tristezas que carrego comigo
Ninguém as vê quando eu chego
Os pântanos por onde andei
Não deixaram marcas em mim
Nem a caverna onde me escondi
Deixou lodo nas minhas sandálias...

Sou a pior de todos os bandidos
Sou assassina, viciada, estragada
Sento na beira da estrada
E abro a minha mala
E nela encontro postes quebrados,
torneiras que pingam lama,
artérias sangrando sem parar,
corpos se decompondo, vestes sujas, rasgadas
onde faltam tantos botões...

E dentro dessa mala tem tantas flores
Flores malditas, flores secas,
Flores secas cobertas com espinhos malditos!

Sou a escória, sou o desastre,
Sou o pior fruto do pior pecado
Carrego as podridões de uma existência conturbada,
Com paredes acimentadas com mentiras,
roubos, mortes, trapaças e crimes inconfessáveis
que tornam minha mala insustentável.

No caminho, vi um cavalo branco
Deitado na estrada
Morto!
E nele eu vi a mim mesma
Sendo comida por vermes
Escuto sua voz, mas não te vejo
Sinto no peito uma luz fraca brilhar
E um sopro de esperança me vem à mente
Será que o seu amor poderia me salvar?